Apesar da expressiva redução nos homicídios registrada no litoral, Teresina segue com altos índices de violência, enquanto moradores de Parnaíba ainda relatam medo e apreensão.
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A violência no Piauí apresentou queda significativa nos últimos anos, mas ainda enfrenta desafios importantes, principalmente em sua capital. Dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-PI) mostram uma redução consistente nos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) em cidades como Parnaíba, enquanto Teresina continua registrando números preocupantes.
Segundo a SSP-PI, Parnaíba completou 33 dias consecutivos sem homicídios até o final de agosto de 2025, um feito inédito na região. Até aquele mês, haviam sido registrados 24 casos de mortes violentas intencionais, contra 47 em todo o ano de 2024, representando uma queda de aproximadamente 49%. A taxa de MVI no município também caiu drasticamente: de 46,3 por 100 mil habitantes em 2022 para 23,5 em 2025.
Apesar dos avanços nos índices de homicídios, especialistas alertam que os dados oficiais contrastam com o sentimento da população, que ainda transmite sensação de insegurança e medo diário em Parnaíba. Casos recentes, divulgados em agosto de 2025 e em redes sociais, incluem a atuação de facções criminosas no Residencial Dunas, com ameaças a moradores e invasões de residências.
Além disso, comerciantes da tradicional Feira do Troca-Troca, no centro de Parnaíba, denunciaram falta de segurança, abandono e descaso com o espaço. Em postagem publicada em 6 de agosto de 2025, um comerciante afirmou: “Está muito perigoso, sem segurança. Nós precisamos pelo menos do guarda patrimonial para passar aqui umas duas vezes pela manhã porque eu mesmo já corri o risco de ser esfaqueado em frente ao meu comércio. A gente trabalha com muita sorte na vida porque se depender da sociedade que entrar aqui e ver a situação, volta com medo. Tem roubos constantes e pequenos furtos, precisamos de ajuda”.
Esses episódios sugerem que, embora os números oficiais indiquem evolução, a redução da criminalidade ainda não se traduz em segurança plena percebida por todos os moradores da cidade.
Segundo o advogado Eleitoral Wallyson Soares, os números precisam ser analisados com cautela: “Os dados oficiais são importantes, mas não podemos ignorar o que a população sente no dia a dia. A insegurança percebida em bairros de Parnaíba mostra que ainda há muito a ser feito.”
Em paralelo, a SSP-PI destaca que o estado registrou reduções não apenas nos homicídios, mas também em crimes patrimoniais. O relatório “Panorama Atual” aponta que, entre 2022 e 2024, houve queda de 20% nos homicídios dolosos. No mesmo período, roubos de celulares caíram 41%, roubos de veículos 27% e latrocínios 24%.
Teresina ainda concentra grande parte da criminalidade do estado. Embora os números da capital possam ser consultados no painel de estatísticas da SSP-PI (DataSSP), as autoridades reconhecem que os desafios são maiores em áreas urbanas com crescimento populacional acelerado, desigualdade social e maior atuação do crime organizado.
Para o advogado Wallyson Soares, o enfrentamento da criminalidade deve ser contínuo e estruturado: “A segurança no Piauí deve ser tratada como um direito de toda a população, além de investimentos efetivos em policiamento, tecnologia, investigação, a política de segurança envolve processo de inclusão social, crianças e adolescentes só são cooptados por facções e grupos de drogas por que o Estado não os inclui.
De acordo com o advogado, em vez de investir em políticas públicas que acompanhem os jovens desde a formação escolar e ofereçam espaços seguros, como atividades no contraturno, o Estado tem priorizado quase exclusivamente o reforço do aparato militar.
Ele defende ainda mais rigor na destinação de verbas públicas: “A violência em Teresina atinge hoje lugares sagrados como escolas públicas a exemplo da morte de Alex Moura de 16 anos dentro de uma escola estadual de Teresina.”
Segundo Wallyson, a prioridade deve ser ampliar os recursos federais para a segurança no estado, mas de forma integrada com outras políticas públicas acompanhadas de mecanismos de transparência no uso desse dinheiro: “Só assim será possível reduzir a violência e garantir que os piauienses vivam sem medo”, conclui.
AsCom