12/11/2025

“Sem educação política, o Piauí continuará vulnerável à corrupção”, alerta advogado

Ausência de formação cidadã deixa população exposta a desvios e fragiliza o combate ao mau uso de recursos públicos.

Mesmo com avanços importantes no desempenho das escolas de Teresina e Parnaíba, o Piauí ainda enfrenta um desafio decisivo que não aparece nas provas ou estatísticas: formar cidadãos capazes de compreender o funcionamento do Estado, fiscalizar gastos públicos e participar da vida política. Para o advogado eleitoral, Wallyson Soares, investir em educação sem investir em cidadania é deixar aberta a porta para a corrupção.
Os dados mais recentes do IDEB mostram que Teresina está entre as capitais com melhores resultados nas avaliações de aprendizagem. O índice combina duas variáveis: o desempenho dos estudantes nas provas do Saeb, que medem o quanto aprenderam em Língua Portuguesa e Matemática e a taxa de aprovação, que indica se os alunos avançam de ano. Isso revela a qualidade da aprendizagem formal, mas não mede habilidades essenciais para a democracia, como conhecimento sobre os Três Poderes, orçamento público, eleições ou capacidade de reconhecer desinformação. Por isso, apesar das boas notas, ainda há uma lacuna profunda: a ausência de formação cidadã.
Segundo o advogado, esse vazio deixa jovens e adultos vulneráveis. Alguém pode ter excelente desempenho acadêmico e, ainda assim, não entender o que faz um vereador, como funciona o orçamento de uma escola ou como fiscalizar um contrato público: “Sem educação política, a população fica dependente de rumores, de redes sociais e de informações distorcidas. O desconhecimento da população reduz a capacidade de fiscalização e acaba ampliando o espaço para desvios”, afirma Wallyson.
Engajamento dos jovens cresce, mas a educação política não acompanha
Nos últimos anos, o Tribunal Superior Eleitoral registrou aumento na procura de jovens de 16 e 17 anos pelo título de eleitor, impulsionados por campanhas de participação e combate à desinformação. Esse crescimento mostra interesse em participar da democracia, mas ainda ocorre sem uma base sólida dentro da escola. O Brasil não possui uma disciplina obrigatória que ensine funcionamento do Estado, direitos políticos, análise crítica de informação ou mecanismos de controle social. Para o advogado, é justamente essa lacuna que impede que o engajamento se transforme em fiscalização real:

“O jovem quer participar, mas não sabe por onde começar. Falta ensino estruturado para transformar vontade em cidadania ativa”, explica o especialista.
Fiscalizações mostram fragilidades no uso dos recursos da educação
Nos últimos anos, o setor da educação no Piauí tem sido acompanhado de perto por órgãos de controle como o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PI), a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Polícia Federal. Embora essenciais, esses monitoramentos também revelam um cenário preocupante: áreas básicas como transporte escolar e merenda continuam entre as mais vulneráveis a erros, falhas e até irregularidades.
No transporte escolar, por exemplo, auditorias identificaram veículos circulando sem condições adequadas, problemas de documentação e até inconsistências em rotas contratadas. Isso significa que estudantes, especialmente da zona rural, dependem de um serviço que nem sempre cumpre padrões mínimos de segurança ou funcionamento. O mesmo ocorre com a alimentação escolar. Em diversos municípios, órgãos de fiscalização precisaram intensificar visitas e análises de contratos devido a suspeitas de compras irregulares, fornecimento de baixa qualidade ou distribuição inadequada dos alimentos.
As investigações mais recentes da CGU e da Polícia Federal reforçam que, embora os casos não tenham ocorrido diretamente em Teresina ou Parnaíba, o setor educacional do estado como um todo segue vulnerável, principalmente em cidades menores, onde a capacidade de gestão é limitada e a fiscalização da comunidade é mais frágil. Para o advogado Wallyson Soares, esse é um alerta claro: “sem participação ativa da sociedade, os desvios encontram espaço”.
Ele afirma que ensinar a população a acompanhar contratos públicos, interpretar portais de transparência e participar de conselhos escolares é tão importante quanto aplicar recursos: “Transparência não funciona sozinha. Sem entender o que estão vendo, as pessoas perdem o poder de fiscalização”, conclui.

AsCom

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