12/03/2016

Niède vai fazer 40 anos que batalha para preservar a Serra da Capivara

Niède Guidon, de 83 anos, dedicou as últimas quatro décadas de sua vida ao Parque Nacional da Capiva

Imagem de divulgação
Uma luta travada pela preservação de relíquias da pré-história do Brasil pode, enfim, estar caminhando para um final feliz graças aos esforços de uma arqueóloga de 83 anos.

Dona de uma história que se confunde com o do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, Niède Guidon batalha há quase 40 anos para manter intactos os mais importantes registros da saga dos primeiros homens a pisarem no atual território nacional, há mais de 20 mil anos.

No fim de fevereiro, o juiz federal Pablo Baldivieso determinou provisoriamente que a União, Ibama e Iphan (instituto responsável pelo patrimônio histórico) repassem R$ 4,49 milhões para a manutenção e conservação do parque, e deu um prazo de um ano para que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela administração, elabore um plano de manejo. Para o magistrado, houve omissão dos órgãos em relação ao espaço.

Segundo o Iphan, que diz ter o menor orçamento das três entidades, a decisão não estipula o valor que deve ser pago por cada uma e ignora o fato de que a petição inicial, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Piauí, pede que o dinheiro saia da Câmara de Compensação Ambiental federal. O órgão vai recorrer.

Se as medidas realmente forem tomadas – a sentença prevê uma multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento –, será possível vencer o atual momento crítico vivido pelo espaço, avalia Niède, para logo alertar que esse dinheiro, sozinho, não é o suficiente:

“Não sei por quanto tempo aguentaríamos”, diz ela em conversa com a BBC Brasil. “Precisamos de uma verba regular de R$ 400 mil por mês para manter o parque."

Histórias entrelaçadas
A luta por mais recursos para manter o parque e enfim conseguir transformar a isolada e empobrecida região do município de São Raimundo Nonato em um polo turístico soma-se às dezenas de outras que a arqueóloga tem assumido praticamente sozinha nas últimas quatro décadas.

“Eu vim morar no sertão para não deixar essa riqueza se perder e poder ajudar a tirar essas pessoas da miséria”, disse, 11 anos atrás, ao receber o prêmio Prince Claus, da Holanda, quando previu: “Minha luta está longe do fim”.

Niède Guidon nasceu em Jaú, no interior de São Paulo. Integrante de uma família de classe média alta de ascendência francesa, formou-se em História Natural pela USP e, aos 28 anos, foi estudar arqueologia na Universidade de Paris-Sorbonne, onde fez doutorado.

Ela chegou ao retornar para o Brasil mas, por causa de sua militância política, voltou à França após o golpe militar de 1964. Lá, criou uma sólida carreira como arqueóloga.
Sua história começou a se confundir com a do sertão piauiense no início da década de 1970, quando Niède deu início, acompanhada por um grupo de colegas franceses e brasileiros, a uma série de expedições arqueológicas a São Raimundo Nonato. Acabou se encantando profundamente com os tesouros naturais e culturais que encontrou.

Foi por iniciativa dela que, em 1978, o governo brasileiro criou o Parque Nacional da Serra da Capivara. E também foi por meio da paulista que as descobertas no sítio arqueológico do Piauí ganharam destaque internacional, em 1986, ao serem publicadas na prestigiada revista científica britânica Nature.

O estudo provocou controvérsia ao sustentar o achado de artefatos humanos de mais de 30 mil anos. Até então, a data mais aceita para o início da presença do homem nas Américas era bem mais recente. Mas, a despeito dessa polêmica, a arqueóloga conseguiu estabelecer que a área havia sido ocupada por paleoíndios e caçadores-coletores antes do que se imaginava.

Fonte: Com informações do G1 e BBC. Via 180

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