
Na década de 1990, Brasil e Argentina enfrentaram a hiperinflação e responderam com ousados programas de estabilização econômica: o Plano Real no Brasil (1994) e o Plano Cavallo (ou Lei de Conversibilidade) na Argentina (1991). Ambos alcançaram o sucesso inicial em domar a inflação, mas diferiram drasticamente em sua arquitetura e resultados de longo prazo.
O Plano Real perdurou, enquanto o Plano Cavallo resultou em um colapso financeiro.
O Plano Cavallo foi implementado em 1991 e tinha como pilar central a Lei de Conversibilidade, que fixava legalmente o peso argentino à paridade de 1 peso por 1 dólar americano. Essa política exigiu que 100% da base monetária argentina estivesse lastreada em reservas internacionais, principalmente dólares. O objetivo era eliminar a inflação imediatamente, ancorando o preço da moeda nacional à estabilidade do dólar.
Já o Plano Real, lançado em 1994, adotou uma abordagem mais gradual e inovadora, dividida em fases. Seu mecanismo-chave foi a Unidade Real de Valor (URV), uma "moeda não monetária" indexada ao dólar. A URV serviu como uma unidade de conta estável, enquanto a moeda antiga, o cruzeiro real, continuava a circular e a desvalorizar-se em relação à URV. Essa transição permitiu desindexar a economia sem um congelamento abrupto de preços e salários, preparando o terreno para a introdução do Real, atrelado inicialmente à paridade de um URV.
Embora a taxa de câmbio inicial fosse próxima à do dólar, ela não era legalmente fixa como na Argentina, permitindo uma gestão cambial mais flexível.
A principal diferença estrutural e o fator decisivo para os resultados de longo prazo residem nas âncoras cambial e fiscal.
No caso argentino, a Lei de Conversibilidade do Plano Cavallo era um compromisso legal e rígido de paridade. Embora tenha extinguido a inflação rapidamente, essa rigidez cambial sobrevalorizou o peso ao longo dos anos. A moeda forte prejudicou as exportações e estimulou as importações, resultando em déficits crescentes em conta-corrente. Para manter a paridade, o governo se viu forçado a acumular dívida externa. A falta de ajuste fiscal rigoroso e sustentado agravou o problema. Quando a Argentina enfrentou choques externos na virada do milênio, a rigidez cambial impediu o ajuste e levou ao colapso de 2001-2002.
O Plano Real, por sua vez, deu enfoque significativo ao equilíbrio fiscal antes da introdução da nova moeda. A criação do Fundo Social de Emergência (FSE) — posteriormente Desvinculação de Receitas da União (DRU) — permitiu ao governo administrar melhor suas receitas, direcionando recursos para o superávit primário. Além disso, a moeda Real, embora forte no início, nunca teve sua paridade com o dólar fixada por lei. Em 1999, o Brasil abandonou a banda cambial por um regime de câmbio flutuante e adotou o sistema de metas de inflação. Essa flexibilidade institucional permitiu à economia brasileira absorver choques externos sem a necessidade de quebrar o sistema monetário, garantindo a sustentabilidade da estabilidade de preços.
O Plano Cavallo foi um sucesso imediato contra a hiperinflação, mas sua rigidez institucional e o déficit fiscal crônico acabaram por condená-lo, resultando em uma profunda crise econômica e social na Argentina.
O Plano Real, com sua transição inovadora e seu foco na disciplina fiscal e na flexibilidade cambial de longo prazo, se consolidou como um dos planos de estabilização mais bem-sucedidos do mundo. A quebra da inércia inflacionária, a introdução de uma moeda forte e a reorganização institucional permitiram ao Brasil alcançar a estabilidade de preços que perdura até hoje.
Ambos os planos demonstraram que a estabilidade monetária inicial é crucial, mas a disciplina fiscal e a flexibilidade cambial (ou a ausência de uma âncora cambial rígida) são fundamentais para a estabilidade econômica duradoura.


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