Família seguida nesse carro de passeio
Foi considerado insuficiente, por exemplo, nos quesitos controle emocional, ansiedade, impulsividade
O soldado Aldo Luis Barbosa Dornel, apontado como autor dos disparos que durante uma abordagem na zona Leste de Teresina matou a menina E. C., de 9 anos, foi reprovado no exame psicológico durante o concurso para ingresso na Polícia Militar do Piauí. Sua convocação para o curso de formação, em setembro de 2010, ocorreu ainda sub judice. O soldado ingressou na PM em 2011.
Documentos obtidos pelo 180graus mostram que, em sua avaliação psicológica na 4ª etapa do concurso, o então candidato Aldo Dornel foi considerado insuficiente nos quesitos “controle emocional, ansiedade, impulsividade, flexibilidade e disciplina”.
Junto com outros candidatos também reprovados, entrou na Justiça sustentando que foram avaliados a partir de um perfil profissiográfico, não previsto em Lei, e considerando critérios subjetivos, pedindo assim a nulidade do exame aplicado e a realização de um novo. Em razão de liminar concedida, o então candidato foi convocado para o curso de formação, conseguindo entrar na PM.
Deste processo, a última movimentação foi registrada há cinco meses.
O soldado Dornel, que está preso, teria efetuado pelo menos cinco disparos contra o veículo onde estava a menina E. C., os pais dela - também feridos à bala - e mais duas crianças. A informação sobre os disparos foi dada, segundo o Coronel Vagner Torres, em depoimento prestado pelo Cabo Francisco Alves, que fazia ronda junto com o soldado na madrugada de segunda para terça-feira (26/12).
De acordo com este depoimento, assim que a família parou o veículo em frente a uma concessionária da Avenida João XXIII, o soldado Dornel desceu da viatura, efetuou cinco disparos, e seu companheiro deu mais dois tiros para cima. Esta versão foi confirmada por testemunhas e pela mãe da criança, a dona de casa Daiane Caetano, que foi atingida no braço. Disparo este que por pouco não acertou o bebê de 8 meses que estava em seu colo.
"Abordagem mal feita"
Ontem, em entrevista à TV, o comandante do Policiamento Metropolitano da Região 1 da capital, Coronel Vagner Torres, reconheceu a ação que terminou na morte da criança como uma "abordagem mal feita". "Poderia ter pedido reforço, ter aguardado um local mais adequado para fazer essa abordagem e com certeza ter evitado essa tragédia", disse o militar.
Os dois policiais envolvidos estão presos e a responsabilidade pelo ocorrido será agora investigada em um inquérito militar, cuja conclusão deve ocorrer no prazo de 20 dias. A morte da menina também está sendo investigada pela Delegacia de Homicídios de Teresina, em procedimento presidido pelo delegado Higgo Martins.
A Polícia Civil já solicitou exames de balística, o laudo do exame cadavérico realizado no corpo da criança, exames de corpo de delito do pai e da mãe da menina, e também imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos próximos ao local da ocorrência.
Pai da menina continua internado
Evandro Costa, que é cantor sertanejo, continua internado no Hospital de Urgência de Teresina, e apesar de estável, seu quadro de saúde inspira cuidados. Diferente do inicialmente noticiado pelo 180, ele sofreu um disparo na cabeça e está com uma bala alojada no crânio. Evandro sofreu traumatismo craniano e está em observação.
Mãe diz que PM recolheu cápsulas
A mãe da menina disse à TV que saiu de casa com a família rumo à região do Grande Dirceu, já que a filha estava com fome. Ao tentar fazer uma rotatória, Evandro Costa, seu esposo - que também foi baleado -, acabou subindo no meio-fio, momento em que a viatura começou a segui-los.
Ao reparar que estavam sem o bebê-conforto, Daiane logo disse apreensiva ao marido que os dois poderiam ser multados. Seguiram em fuga, mas assim que viu a sirene da viatura ligada a mulher pediu ao marido que parasse. "Assim que parou a polícia ficou um pouquinho distante e começou a atirar", contou. A dona de casa disse ainda que "todo mundo que estava ao redor viu" quando um dos policiais começou a recolher as cápsulas provenientes dos disparos. Relatou inclusive que os militares pediram a chave do carro e levaram para fazer a perícia.
Fonte: 180