01/04/2014
Veja o trailer de um dos
filmes mais esperados do ano. Com efeitos especiais de última geração e tom
heroico, conta de uma maneira bem holliwoodiana, uma das histórias famosas da
Bíblia.
Estrelado por Russell Crowe, o filme
"Noé" está esquentando o debate em comunidades religiosas sobre os
limites da interpretação artística da Bíblia.
Antes mesmo de a chuva cair, havia dúvidas. Será
que "Noé", a nova superprodução da Paramount Pictures, vai alienar os
fiéis? Será que vai atrair não religiosos em número suficiente para recuperar
um custo de US$ 125 milhões? E, mais importante, será que essa volta grandiosa
de Hollywood aos épicos bíblicos vai ser bem recebida por importantes líderes
religiosos? Alguns desses líderes já estão dizendo que o filme, repleto de
efeitos especiais, reapresenta o livro do Gênesis como uma parábola ambientalista
moderna e contém detalhes que não estão nas escrituras. Três países árabes
estão se recusando a distribuir o filme: muçulmanos consideram Noé um profeta e
alguns condenam o uso de imagens de figuras sagradas como
sacrilégio. "Noé" foi lançado sexta-feira nos Estados Unidos e
estreia nesta quinta-feira no Brasil. Estrelado por Russell Crowe e outros
dois atores já premiados com o Oscar, "Noé" é uma iniciativa notável
— e arriscada — para um estúdio hollywoodiano. É a primeira superprodução bíblica
em quase 50 anos e quebra a fórmula dominante da última grande era desse tipo
de filme, nos anos 50 e 60. Na época, enredos e personagens permaneceram na
maior parte fiéis à narrativa original, inclusive nos clássicos de Charlton
Heston, como "Os Dez Mandamentos" e "A Maior História de Todos
os Tempos".
A abordagem da Paramount está sendo observada de
perto pela indústria cinematográfica como um teste para uma série de projetos
bíblicos de grande orçamento em desenvolvimento. Mas líderes religiosos, embora
animados com a ideia de ter o glamour de Hollywood a serviço de suas
causas, dizem que a Bíblia não é tão fácil de ser adaptada para o grande
público como, por exemplo, uma história em quadrinhos. O filme está esquentando
o debate em comunidades religiosas sobre os limites da interpretação artística
da Bíblia.
Nem todo mundo está preocupado. Alguns cristãos e
judeus influentes acharam "Noé" uma interpretação consciente e
divertida. Mas mesmo estes dizem ser difícil prever como o filme será recebido
por conservadores e literalistas da Bíblia.
A Paramount, que pertence à Viacom Inc., afirma que grande parte da reação
inicial se baseia em versões anteriores do roteiro que vazaram e não se parecem
com o produto final. "Noé" já estreou com sucesso no México, onde
arrecadou US$ 1,4 milhão no primeiro dia, e na Coreia.
"Tivemos que lidar com a questão: 'Será que
podemos confiar em Hollywood para fazer um filme que é ao mesmo tempo divertido
e consistente com temas bíblicos?'", diz Rob Moore, vice-presidente do
conselho de administração da Paramount. Dados preliminares indicavam ontem uma
bilheteria de US$ 44 milhões no fim de semana de estreia nos EUA, acima dos US$
40 milhões previstos pela Paramount. O estúdio espera uma boa audiência nas
próximas semanas graças aos espectadores mais velhos, que costumam ver filmes
depois da estreia. No total, "Noé" já havia arrecadado US$ 95 milhões
até ontem, segundo o site Boxofficemojo.com.
É claro que, nas últimas décadas, a indústria do
cinema não abandonou o gênero dos filmes "baseados na fé". Só que,
ultimamente, o tema ficou relegado a produções de baixo orçamento, atores pouco
conhecidos e filmes muitas vezes direcionados diretamente ao mercado de DVDs.
Hollywood tem ficado longe de filmes bíblicos de alto custo que podem gerar uma
reação negativa entre religiosos e indiferença entre o público secular. Mesmo
"A Paixão de Cristo", de Mel Gibson, que custou US$ 30 milhões e
chocou Hollywood ao arrecadar US$ 370 milhões nos EUA e US$ 600 milhões
globalmente, em 2004, foi inicialmente dirigido a grupos religiosos, antes de
se tornar um fenômeno de mercado.
Uma reação positiva de Jerry A. Johnson, líder do
The National Religious Broadcasters, por exemplo, poderia dar ao estúdio um
endosso valioso da maior rede de comunicação cristã dos EUA, que atinge dezenas
de milhões de ouvintes e telespectadores. Após assistir a "Noé", no
mês passado, Johnson disse que se opõe à mensagem ambiental do filme, mas aplaude
a "seriedade" com que tratou o tema do pecado e do juízo de Deus,
além do alto valor da produção. Atendendo a um pedido dele, a Paramount
acrescentou um aviso aos espectadores de que o filme é "inspirado na
história de Noé" e que usou "licença poética".
O sucesso ou o fracasso comercial de
"Noé", que retrata um profeta do Velho Testamento como um herói de
ação, poderia profetizar o destino de outros personagens bíblicos que devem
receber uma roupagem hollywoodiana nos próximos anos, incluindo Moisés, Maria,
Caim e Abel.
"Maria", a ser lançado pela Lions Gate Entertainment Corp. no ano que vem, narra
os primeiros anos da mãe de Jesus — um ângulo que, segundo um produtor, ajuda a
retratá-la como uma heroína para um mercado que tem gostado de jovens
personagens femininas como Katniss Everdeen, de "Jogos Vorazes".
Quanto a "Noé", a Paramount afirma que
abordou líderes critãos e de outras religiões logo no início do processo para
gerar uma compreensão maior das intenções do diretor, Darren Aronofsky, e que
acredita que algumas das críticas vão terminar quando o público assistir à
versão definitiva. Ainda assim, as respostas negativas contrastam com o apoio
da comunidade cristã, no início deste ano, a "O Filho de Deus", uma
biografia ostensivamente religiosa de Jesus Cristo que recuperou seu orçamento
nominal no fim de semana de estreia nos EUA.
A inspiração para "Noé" veio de
Aronofsky, conhecido por dramas mórbidos e surreais. Seu sucesso de bilheteria
"Cisne Negro", sobre uma bailarina obsessiva que perde o contato com
a realidade, foi indicado ao Oscar de melhor filme e seu sucesso deu ao diretor
de 45 anos cacife necessário para fazer "Noé", uma história que o
cativa desde que ele escreveu um poema sobre ela na escola.
"Desde criança, achei [Noé] uma história
assustadora. [Receava] não ser bom o suficiente para entrar no barco e o que
isso significaria", diz Aronofsky, que atribui a maior parte da reação
negativa antecipada à demora de Hollywood para voltar a produzir épicos
bíblicos.
A história de Noé no Gênesis tem só quatro
capítulos e o descreve como um "homem justo" de 600 anos, sem mais
detalhes. Para completar a descrição, Aronofsky e Ari Handel, que o ajudou a
escrever o roteiro, se debruçaram em textos judaicos antigos, tratados
teológicos e manuscritos sobre o Mar Morto. A bibliografia do roteiro tem cinco
páginas.
O Noé de Aronofsky é um naturalista transtornado
que, machado em punho, luta contra exércitos malignos com a ajuda de gigantes
de pedra gerados por computador. As cenas são semelhantes a outra série da
Paramount, "Transformers". O filme também retrata um drama famili=ar,
com a atriz Jennifer Connelly fazendo o papel da sofrida esposa de Noé e o ator
Logan Lerman, de Ham, o filho do meio, que foi proibido de levar sua esposa
para a arca.
Contribuindo para a crítica de que o filme tem uma
agenda, Deus manifesta sua ira com um dilúvio, não só para punir o mal da
humanidade em geral, mas também porque uma "civilização industrial"
tem sobrecarregado os recursos naturais da Terra. Noé é convocado para salvar
os animais e sua família, enquanto o resto da humanidade se afoga.
"Não sei como não há uma conexão ecológica [na
história]", diz Aronofsky. "A palavra 'ambientalismo' foi politizada
por algumas pessoas que fizeram dela uma questão fora do que está na
Bíblia." Por sua vez, alguns cristãos dizem que as escrituras apoiam o
tema ambiental e outros que Deus deu ao homem domínio sobre a criação.
fonte: online.wsj.com
/Edição: PHB em Nota