30/04/2021

Morte do lutador de boxe: delegado diz que ele “não tinha condições” e testemunhas fazem novas revelações

Entre as várias revelações feitas pelas testemunhas que estiveram na luta de boxe clandestina realizada em Teresina, um deles disse que estranhou que o lutador Jonas demorou a sair do camarim para o ringue.

Localizada no Itaperu, academia clandestina foi palco de luta de boxe que terminou com a morte de um lutador (Foto: Ricardo Morais / OItoMeia)

Quase uma semana depois da morte do lutador amador de boxe Jonas de Andrade Carvalho Filho, mais conhecido como Guerreiro da Luz, de 34 anos, durante um evento clandestino que aconteceu em uma academia no último sábado (24/04), na zona Norte de Teresina, a Polícia Civil já ouviu quase 20 pessoas que estavam envolvidas com o evento.

Entre essas pessoas, profissionais de saúde que estavam no local. Mas não trabalhando, sim participando, como espectadores das lutas que estavam marcadas para acontecerem ali. O local é conhecido de moradores da região como ‘Fundo de Quintal’. É uma espécie de galpão com aparelhos de academia. A reportagem do OitoMeia foi até o local e conversou com o delegado titular do 7º Distrito Policial, Menandro Pedro, que está a frente das investigações. E surgem novas revelações.

EVENTO E LOCAL CLANDESTINOS
Foi ele quem confirmou que está com muitas informações sobre o caso após ouvir diversas testemunhas. Menandro faz questão de ressaltar que o local era “totalmente clandestino” e revela que o evento, que descumpriu decreto do Governo do Estado que pede-se que aglomerações sejam evitadas, reuniu pelo menos 300 pessoas. Segundo Menandro, o evento que seria esportivo estava muito mais para uma festa. Tinha muita bebida alcóolica, som automotivo -os chamados paredões de som- e não contou com nenhuma medida sanitária.

“A luta foi totalmente clandestina, tudo irregular. Tinha muita bebida alcoólica e sem equipamentos de segurança. A única coisa que tinha era uma enfermeira que tinha um aparelho conhecido como oxímetro (equipamento que permite medir a saturação de oxigênio no sangue). Entre todos os absurdos, um dos mais chocantes é que pessoas da área da saúde, como fisioterapeuta e outras profissionais, participavam do evento como espectador mesmo, fazendo totalmente o contrário do que deveriam fazer, como não aglomerar e ainda em um evento clandestino. Todos serão responsabilizados, pois tem regras, decretos, proibições e eles ainda fazem isso”, informou o delegado. Assista:

VÍTIMA NÃO TINHA CONDIÇÃO DE LUTAR
O delegado disse que visitou o local do evento e uma perícia foi requisitada para análise dos fatos. De acordo com Menandro Pedro, até agora o que ficou claro para a Polícia é que o local funcionava de forma clandestina até mesmo como academia, já que não tem registro no Conselho Regional de Educação Física (Cref-PI). E ele fez uma revelação grave ao OitoMeia: o lutador Jonas de Andrade Carvalho Filho, que morreu após lutar, não tinha qualquer condição de lutar. Isso porque, pelo que apurou Menandro, não era nem lutador profissional e muito menos amador. E levou socos de um “campeão do boxe”.

“Na hora que eu tomei conhecimento desse caso no 7º distrito policial eu fui com toda a equipe de investigação até o local, mas não tinha ninguém. O vizinho possui uma oficina, quando eu adentrei na oficina dele, vi que tudo é uma coisa só. Primeiro eu constatei que lá não tinha a mínima condição de ocorrer aquele evento ou qualquer outro. Esse inquérito, não tem nem uma semana, mas já tenho muita coisa. Estou ainda ouvindo vários envolvidos. Todos são unânimes em dizer que a vítima Jonas não tinha a mínima condição de lutar nem com um amador, imagina com um profissional, que foi duas vezes campeão”, declarou. Assista:

PARTICIPANTES FALAM DAS GRAVIDADES
Na delegacia, o OitoMeia encontrou com alguns dos participantes. Pelo menos três que estavam no evento e que foram convocados. Eles pediram para não ter seus nomes e rostos revelados, temendo retaliações, mas deram informações sobre as diversas gravidades do que ocorreu naquele dia. Um deles detalhou que nem mesmo água tinha para os lutadores e demais participantes da festa.

“Eu fui comprar água e logo que começaram as lutas não tinha água para ninguém. Quer dizer, tinha umas 12 garrafas de água (insuficiente para tanta gente). A única coisa que o rapaz (garçom) disse que tinha era ‘tem cerveja e uísque e que molha a garganta do mesmo jeito’, foi isso que ele falou”, afirmou uma das testemunhas do evento esportivo-festivo clandestino. Assista:

“PREOCUPAÇÃO ERA SÓ COM O DINHEIRO”
Uma outra testemunha intimida para depor admitiu que lá havia muita irregularidade. Ele revelou que não tinha qualquer aparato médico no local e que quando o lutador Jonas de Andrade passou mal os organizadores não prestaram o devido socorro. Segundo ele, a preocupação dos organizadores era apenas em retirá-lo logo do ringue para não “atrapalhar” o evento. Jonas foi levado por outros participantes, nos braços, direto do ringue, mas não resistiu e morreu.

“O que eu vi lá foi muita irregularidade. Não tinha aparato médico, equipe de segurança… O que tinha muito era bebida. As lutas aconteceram com muita irregularidade e muita aglomeração. No momento de socorrer o lutador o pessoal do evento não ligou para nada. Se não fosse os amigos para poder socorrer ele, ninguém tinha socorrido. Ficaram foi já organizando a próxima luta, preocupados com o lado financeiro mesmo, pois nem encostaram para prestar socorro ao lutador”, relatou outra testemunha. 

JONAS DEMOROU A SAIR DO CAMARIM PARA O RINGUE
Uma informação que circulou nas redes sociais, com o áudio de um suposto participantes diz que Jonas, antes de entrar no ringue e lutar, teria tomado algum tipo de droga muito forte. Falaram em algo parecido com “anabolizante de cavalo”. O delegado Menandro preferiu não falar nada sobre o assunto, por ainda estar acompanhando as diligências e investigações, mas alguns dos rapazes que foram depor na delegacia chegaram a comentar sobre o assunto, mas sem saber se realmente se tratava de algum tipo de droga ou dopagem por parte do próprio Jonas. Questionam inclusive a forma como o lutador levou os golpes. Para eles, nenhum dos golpes teria sido capaz de lhe causar um problema de saúde que o levasse à morte.

“O que eu estranhei é que ele (Jonas), sendo chamado pelo narrador no microfone, demorou muito para sair do camarim. E quando saiu, parecia um pouco estranho. O pessoal quando filma, nas imagens, é possível ver que em alguns momentos ele já estava meio atordoado. Essa imagem que não me sai da cabeça. Agora dizer que ele sofreu algum tipo de traumatismo com os muros que levou, acho que… não sei não.. não seria possível. Mas acho que não foi por causa dos golpes que sofreu lutando não”, disse uma das testemunhas. Abaixo, assista como foi a luta em um vídeo que foi divulgado ao vivo e posteriormente bastante compartilhado nas redes sociais:

DONO PODE RESPONDER POR HOMICÍDIO CULPOSO OU DOLOSO
O presidente do Conselho Regional de Educação Física (Cref-PI), Denys Queiroz afirmou que a academia “Fundo de Quintal” não tinha registro e portanto funcionava de forma clandestina. A Federação de Boxe também informou que não sabia da realização do evento e por isso considera totalmente irregular. A Polícia Civil apura ainda a responsabilidade pelo evento que violou o atual decreto, que proíbe realização de evento que possam gerar aglomerações em todo o Piauí. No sábado que ocorreu a luta, dia 24 de abril, a propósito, o decreto só permitia o funcionamento de atividades consideradas essenciais.

“O evento aconteceu quebrando os protocolos da pandemia. Era um evento completamente ilegal, sem autorização para acontecer. Também não tinha aparato médico, como uma ambulância e logística para dar suporte. Além de tudo, a academia não tem registro no Cref-PI. Esse é um esporte onde pode acontecer de tudo. Contusão cerebral, mal súbito, fraturas de tíbia e fíbula. É preciso estar preparado para estas situações”, completou o presidente do Conselho Regional de Educação Física.
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Lutador Jonas em foto de redes sociais e no dia da luta em Teresina, desacordado ainda no ringue (Fotos: Reprodução)

DONO PODE RESPONDER POR HOMICÍDIO CULPOSO OU DOLOSO
O OitoMeia foi ao local para tentar falar com algum responsável, mas ninguém foi encontrado para falar sobre o assunto. Os telefones que a reportagem teve acesso, deram todos na caixa postal, desligados ou bloqueados. O proprietário da Academia “Fundo de Quintal” foi identificado apenas como José Claudio. Segundo o delegado Menandro, ele e os demais organizadores e responsáveis podem responder por diversos crimes, sendo um deles o de homicídio culposo ou doloso. Além disso, foram todos chamados para prestar depoimento na delegacia até que o inquérito seja concluído. O prazo é de 30 dias, podendo ser prorrogado. Abaixo, uma informação repassada por José Cláudio, que prometeu ajudar a família do lutador morto no dia do evento:

“Foi um evento teste. Um evento tem que ter no mínimo 10 lutas e esse só teve 5. E era para colher um material para fazer futuramente eventos em Teresina. O evento tem essa caraterística rústica, mas com todo o aparato, como arbitragem e paramédico. Foram lutas casadas, todo mundo pediu para lutar. Todos que estavam lutando pediram [pelo evento]. Inclusive o rapaz que veio a óbito, ele pagou para o rapaz lutar com ele. Foi um acerto de R$ 1 mil. No momento em que eles estavam lutando, teve uma chuva. O pessoal que foi convidado pelos próprios atletas para ver a luta, foram para a única parte coberta, que era onde estava o ringue, por isso parece que todos estavam juntos, mas logo depois pedimos para o pessoal sair de perto do ringue, por isso teve essa impressão de muita gente”, disse ele há alguns dias, segundo matéria do G1 Piauí.

Fonte: Portal Oito Meia 

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