28/12/2019

Vilarejo no litoral do Piauí atrai turistas atrás da nova Jeri


Foto: Carlienne Carpaso/ Cidadeverde.com

As ruas são de areia, os kitesurfistas se destacam no mar e há restaurantes para todos os gostos e bolsos.

A descrição poderia ser a de Jericoacoara, no Ceará, hoje um dos destinos mais badalados do litoral brasileiro. Mas uma praia a 170 km, no vizinho estado do Piauí, tem recebido fãs de esportes náuticos e turistas que já a apelidaram de "a nova Jeri".

Para algumas pessoas que decidiram criar raízes ali, entretanto, Barra Grande não é a nova, mas a antiga Jeri. A história do turismo na vila piauiense que pertence ao município de Cajueiro da Praia se mistura à da praia cearense.

Ex-moradores de Jeri ajudaram a iniciar o turismo em Barra Grande em 2005, após uma viagem de reconhecimento. A praia do Ceará já crescia de maneira desordenada, com muitos restaurantes e pousadas em uma concorrência que aumentava mês a mês.

"Viemos em três casais, vimos potencial e decidimos mudar para cá. Hoje são 38 pousadas já em Barra Grande, mas as pessoas ainda se olham no olho para conversar", conta o empresário paulista Luiz Guilherme Miranda, 50.

Ele abriu com a mulher, Gislaine Gregório, 43, e amigos o primeiro um restaurante. Avaliaram que os turistas não comprariam roupas e bugigangas, mas precisariam se alimentar.

Por ali existia apenas uma pequena pousada, que recebia na maioria kitesurfistas de fora do Brasil que aproveitavam o vento da região para praticar o esporte, cujo equipamento é uma prancha e uma pipa (quando aberta, lembra um para-quedas).

Na segunda metade da década passada, Barra Grande era um lugar mais barato do que Jeri para se praticar esporte.

"Em Jericoacoara arrendávamos uma pousada, que depois foi vendida. Pegamos uma menor, mas estava difícil. A decisão de vir a Barra Grande partiu daí", disse Gregório.

O ponto é estratégico para o turismo por um motivo: é a entrada do Delta do Parnaíba para quem chega do Ceará.

Barra Grande está a 70 km de Ilha Grande, cidade vizinha a Parnaíba, a segunda maior do Piauí, e onde fica o porto de onde saem os passeios de barco que navegam pelas ilhas do encontro do rio Parnaíba com o mar –há também visitas ao Delta a partir de Tutoia, já no Maranhão.

Para ir de Jericoacoara ao delta é preciso portanto passar por Barra Grande.


Foto: Carlienne Carpaso/ Cidadeverde.com

A Barra Grande que Guilherme e Gislaine, que hoje têm uma pousada, encontraram 14 anos atrás está bem diferente. Há iluminação em boa parte das ruas, que ainda são de areia –em algumas delas, as luzes foram instaladas pelos moradores.

Há água encanada, mas muitas casas e pousadas ainda usam poços artesanais, e 100% delas ainda precisam de fossa sanitária, pois não há coleta. Jericoacoara hoje tem iluminação em todas as ruas principais e rede de esgoto.

O kitesurf foi o que levou o belga Hervé Witmeur, 32, a Barra Grande. Primeiro ele passou pelo óbvio destino de Jericoacoara, mas amigos indicaram um local mais tranquilo para a prática do esporte.

Witmeur, que estudava gastronomia inspirado pelo pai, chef de cozinha, se encantou pela culinária local e decidiu ficar.

Em 2012, abriu na praia um restaurante e, sete anos depois, fez o caminho inverso dos desbravadores de Barra Grande: inaugurou um restaurante de luxo em Jericoacoara. Hoje passa 80% do tempo no Ceará.

"É bom para as crianças [ele tem dois filhos, o menor nascido no Brasil] porque Jericoacoara tem uma estrutura melhor. Mas Barra Grande é um lugar mais tranquilo. Por isso os restaurantes têm perfis diferentes, para dois lugares que são parecidos, mas diferentes", disse Witmeur.

No primeiro final de semana de dezembro, Barra Grande sediou um festival de gastronomia chamado Begê Sabor.

Chefs conhecidos como o paraense Thiago Castanho estiveram por lá, mas o público, segundo a organização, foi prioritariamente da região. Mais de 80% dos visitantes moravam em Cajueiro da Praia ou cidades próximas, como Chaval (já no Ceará) ou Luis Corrêa.

"Conheço Jeri, mas aqui é bem mais tranquilo. Tomara que não se transforme em alguns anos na loucura que está lá no Ceará", disse o cearense Edvaldo Pereira Santana, 45, músico que visita Barra Grande com frequência.

Há expectativa na região de como a provável privatização do Parque de Nacional de Jericoacoara, prevista pelo governo federal, pode afetar o turismo em Barra Grande.

Se com isso os preços subirem ainda mais em Jericoacoara é possível que praticantes de kitesurf e mesmo turistas atrás de sol e mar rodem um pouco mais na estrada para chegar ao Piauí.

Por Marcel Rizzo
Fonte: Folhapress

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