05/11/2019

Empresas interrompem fornecimento a hospitais do estado após dívida de 20 milhões

Empresários denunciam que a Fundação Estatal Piauiense de Serviços Hospitalares (Fepiserh) atrasou pagamentos. Em nota, a fundação disse que prepara cronograma de pagamento.

Hospital Getúlio Vargas (HGV) em Teresina — Foto: Gilcilene Araújo/G1

Empresas que fornecem material para hospitais do Piauí interromperam o fornecimento após uma dívida de mais de 20 milhões. A medida comprometeu diversos serviços médicos devido à falta de equipamentos para realização de procedimentos nas unidades de saúde e isso tem prejudicado pacientes.

Em nota, a Fundação Estatal Piauiense de Serviços Hospitalares (Fepiserh) reconheceu o débito com os fornecedores e justificou o atraso dizendo que ele se deu por ajustes no contrato devido a aumento na demanda de pacientes. A fundação disse também que prepara um cronograma de pagamento mas não divulgou quando será quitada a dívida.

Ademilton Costa faz hemodiálise três vezes por semana em Teresina desde 2007. Ele, que é natural de Anísio de Abreu, no Sul do Piauí, recebeu a notícia que faria o transplante intervivos de rim com a doação do irmão no início do ano.

O problema é que já se passaram 6 meses e até hoje o paciente espera ser chamado para a cirurgia. "Eles pediram alguns exames, eu fiz. Mas até agora nada", relatou Ademilton Costa.

Ademilton e Antônia Nunes, que também é paciente renal, estão abrigados na Associação dos Pacientes Renais. Ela é de Pimenteiras, a 252 km de Teresina, e faz hemodiálise há 14 anos na capital.

Ela conta que além do problema com a cirurgia, os pacientes sofrem com a falta de insumos básicos. "Faltam as linhas, arterial, venosa, falta capilar. Já faltou até agulha", disse.

O Hospital Getúlio Vargas é o único centro transplantador público do Piauí e, segundo a Associação dos Pacientes Renais, em maio deste ano as cirurgias para transplantes foram suspensas.

"No ano passado isso também aconteceu. Na ocasião, 18 rins foram mandados para outros estados porque aqui não era possível a realização da cirurgia. Esses órgãos poderiam ter beneficiado piauienses, mas não foi possível por falta de material", explicou Luís Filho, presidente da associação.

Pagamentos atrasados

Fundação Estatal Piauiense de Serviços Hospitalares (Fepiserh) — Foto: Lucas Pessoa/ G1 PI

Esses problemas podem ser justificados pela falta de pagamento dos fornecedores por parte do estado. Na semana passada, representantes de mais de 40 empresas se reuniram para tentar encontrar uma solução. Segundo eles, a dívida soma mais de 20 milhões de reais.

Os representantes das empresas, que preferiram não ser identificados por medo de represálias, contaram mais detalhes sobre os atrasos no pagamento. "Estamos há dez meses sem receber e não estamos mais fornecendo", disse um dos empresários.

"A dificuldade que se tem da gente entrar em contato com o setor competente lá da Fundação Hospitalar é muito grande. Quando nos recebem dizem que não tem dinheiro. A consequência é o desabastecimento dos hospitais, que não vão ter mais material para funcionar", completou.

O Conselho Regional de Medicina (CRM) tem denunciado as péssimas condições de trabalho dos médicos. Quanto aos pacientes sem hemodiálise, o risco de eles morrerem sem o tratamento aumenta consideravelmente. "Como é que vai ficar a situação desses pacientes. O governo vai arcar com todo esse ônus de óbitos", questiona a presidente do CRM, a médica Mirian Parente.

"Semana passada o Ministério Público realizou uma audiência para tratar sobre a retomada dos transplantes renais no estado. A Secretaria de Saúde ficou de elaborar um plano para dentro de 15 dias apresentar esse plano", informou a médica.

Presidente do Conselho Regional de Medicina no Piauí, Mírian Parente — Foto: Lucas Marreiros/G1

O promotor de Justiça Eny Marcos Pontes afirmou que o Ministério Público acompanha a situação do hospital. "Hoje no Getúlio Vargas vários insumos estão em falta. Temos acompanhado e exigido que realizem compras para poder suprir a necessidade do hospital", explicou.

Eny Marcos Pontes disse que a compra de alguns remédios está em andamento. "Há um pregão eletrônico para que se possa comprar medicamentos. Também há compras diretas. Estamos acompanhando e exigindo justificativas para essas compras diretas", afirmou.

Fonte: G1 PI

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