Fundação Ninho dedica atenção à mães prostitutas e mulheres de presos.
Projeto Arte Lata une música e sustentabilidade e tira crianças de risco.
Parnaíba, no Litoral do Piauí, que nesta quinta-feira (14) celebra 170
anos de emancipação política, guarda histórias emocionantes de pessoas
que dedicam boa parte do seu tempo a cuidar do próximo. São parnaibanos
que viram na dificuldade do outro a necessidade de ajudar. Crianças em
situação de vulnerabilidade social e adultos sem nenhuma perspectiva de
vida tiveram suas histórias escritas de forma mais colorida e humana.
Zulmira Aguiar há mais de 30 anos se dedica a ajudar o próximo (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Zulmira Aguiar, aos 74 anos, ainda mantém um trabalho social com prostitutas, mulheres de presidiários e mães solteiras. A ação teve início ainda na década de 1980 quando, segundo ela, teve a visão de Nossa Senhora (de quem é devota) que a convidou a evangelizar e levar os ensinamentos da Bíblia para pessoas distantes de qualquer religião. Missionária da Legião de Maria, movimento da igreja católica nascido na Irlanda, Zulmira Aguiar, saia de casa em casa com um pequeno grupo pregando a palavra de Deus.
Registro da primeira sede do Projeto Ninho que na época de chama de Escolinha da Legião de Maria (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Foi na Rua Coronel Joaquim Antonio, que nessa época abrigava vários
prostíbulos, o local escolhido por Zulmira para focar o projeto de
evangelização. “As minhas companheiras de grupo não passavam por essas
‘casas’ e então eu falei que aquelas pessoas eram as que mais precisavam
ouvir a palavra. Foi quando as visitas começaram. Não foi um começo
fácil, mas estava lançado o desafio”, relembra.
Zulmira viu que as prostitutas não tinham outra atividade além da vida noturna e resolveu ensiná-las atividades manuais como corte, costura, crochês e bordados. Todo material e máquinas eram de Zulmira. Para isso, alugou um bar que estava desativado próximo aos prostíbulos e então conseguia reunir no local várias mulheres. Os cursos duraram dois anos até que o proprietário vendeu o antigo bar e Zulmira teve que transferir a pequena escola para a garagem da sua casa.
Fundação Ninho tem espaço para receber filhos de mulheres atendidas (Foto: Patrícia Andrade/G1)
“Foi uma briga com a minha família. Ninguém queria. Lá, além de
catequisar as meninas, eu também recebia os filhos delas. Quando
souberam que a escola ia fechar foi um chororô, mas não deixei isso
acontecer. Eu queria que aquelas mulheres tivessem outra atividade, que
aprendessem a fazer outra coisa porque aquela vida delas na noite não
duraria por muito tempo”, conta.
A garagem de Zulmira foi ficando pequena para tanto amor e dedicação e ela contou com a ajuda do padre Geraldo que enviou uma carta à Irlanda e conseguiu recursos para erguer o prédio que hoje abriga a Fundação Ninho. A entidade filantrópica recebe doações da iniciativa privada e mantém convênio com a prefeitura de Parnaíba e governo federal. São pelo menos 93 famílias cadastradas, 109 crianças e 80 adolescentes atendidos.
Há mais de 30 anos, Zulmira é exemplo para quem já não tinha mais esperança de dias melhores, para pessoas ignoradas pela sociedade e reféns da desigualdade social. A Fundação Ninho é de fato um ninho de solidariedade e abrigo.
No batuque da solidariedade
O som dos tambores do Projeto Arte Lata também é anúncio de que destinos foram mudados a partir de uma ação solidária. São 191 crianças que encontraram nas atividades do Posto de Puericultura Suzanne Jacob (PPSJ), antigo Lactário Suzanne Jacob, o refúgio para se afastarem das mazelas do cotidiano. Muitas delas passavam parte do dia com os pais no lixão de Parnaíba catando materiais para vender. Hoje, além de frequentar a escola, meninos e meninas têm aulas de música, balé e futebol. O foco das ações é o bairro Alto Santa Maria, considerado um dos mais perigosos da cidade.
Por meio da música, crianças trabalham funções cognitivas e convivem em grupo (Foto: Patrícia Andrade/G1)
No Arte Lata a música vem aliada à sustentabilidade. Os meninos e
meninas usam instrumentos feitos a partir de tambores de plástico,
tampas de garrafas, latas de tinta e outros materiais descartados pela
população, mas que podem ser reaproveitados. Além de tirar as crianças
de uma situação de risco, o projeto ajuda a ampliar as funções
cognitivas, promover a convivência em grupo e alimentar sonhos.
Gabriel Carlos Lima, 13 anos, integra o Arte Lata e a partir do contato com a música alimentou o sonho de se tornar um baterista. Cursando o 8º ano do ensino fundamental, Gabriel tem nos olhos o brilho de alguém que viu a sua história mudar. “Gosto de música e gosto de vir para cá. Se não der certo ser baterista acho que gostaria de ser um jogador de futebol”.
Mylena Machado, 10 anos, toca repique e diz gostar de música, mas para ela a atividade é mais um lazer. A menina, que já é também cantora no coral da igreja, não pensa em brilhar nos palcos, mas sim fazer carreira como fisioterapeuta da Marinha do Brasil. “Acho uma profissão bonita e quero muito”, diz a menina.
Messias Miranda Pires, 12 anos, diz que a música o aproximou de alguns ritmos dos quais gosta muito: hip hop, reggae e samba. “Quero seguir carreira como músico, quem sabe um baterista, mas também pretendo fazer medicina. Quero ser médico”, diz o menino que há dois anos integra o Arte Lata.
Algumas crianças alimentam sonho de seguir carreira de músico (Foto: Patrícia Andrade/G1)
O Posto de Puericultura Suzanne Jacob é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, fundada em 1938 por Roland Jacob com a finalidade de fornecer leite e alimentos para as crianças pobres de nossa cidade. Até 1998 suas ações estavam voltadas, basicamente, para a nutrição de crianças, com investimento em atenção à saúde e apoio material às famílias. A partir daí, o PPSJ começou um processo de revisão do seu papel institucional na região.
“Hoje o nosso foco é inserir outras atividades na vida dessas crianças promovendo a melhoria do ambiente por meio de recantos lúdicos e saudáveis integrando a família e escola nesse trabalho”, diz Luana Araújo, coordenadora do PPSJ.
A música que vem dos tambores do Arte Lata não ecoa só pelo bairro Alto de Santa Maria. As crianças frequentemente são convidadas para eventos culturais. O grupo já chegou a se apresentar na abertura do show da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano em Parnaíba. Orgulho para César Sousa, o instrutor de música que há 12 anos acompanha a criançada no Arte Lata.
“É uma alegria trabalhar com essas crianças e ver que a realidade delas pode mudar, ser adaptada à melhores condições. Não é só uma relação de professor, mas de amizade. Aqui somos pai, irmão, psicólogo e amigo”, diz César.
Além de Parnaíba, as ações do PPSJ já chegou às cidades de Caraúbas, Cocal, Ilha Grande e Carnaubeiras, no Maranhão. O Projeto Arte Lata conta com apoio do Criança Esperança, um projeto da Rede Globo em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Zulmira Aguiar, aos 74 anos, ainda mantém um trabalho social com prostitutas, mulheres de presidiários e mães solteiras. A ação teve início ainda na década de 1980 quando, segundo ela, teve a visão de Nossa Senhora (de quem é devota) que a convidou a evangelizar e levar os ensinamentos da Bíblia para pessoas distantes de qualquer religião. Missionária da Legião de Maria, movimento da igreja católica nascido na Irlanda, Zulmira Aguiar, saia de casa em casa com um pequeno grupo pregando a palavra de Deus.
Zulmira viu que as prostitutas não tinham outra atividade além da vida noturna e resolveu ensiná-las atividades manuais como corte, costura, crochês e bordados. Todo material e máquinas eram de Zulmira. Para isso, alugou um bar que estava desativado próximo aos prostíbulos e então conseguia reunir no local várias mulheres. Os cursos duraram dois anos até que o proprietário vendeu o antigo bar e Zulmira teve que transferir a pequena escola para a garagem da sua casa.
A garagem de Zulmira foi ficando pequena para tanto amor e dedicação e ela contou com a ajuda do padre Geraldo que enviou uma carta à Irlanda e conseguiu recursos para erguer o prédio que hoje abriga a Fundação Ninho. A entidade filantrópica recebe doações da iniciativa privada e mantém convênio com a prefeitura de Parnaíba e governo federal. São pelo menos 93 famílias cadastradas, 109 crianças e 80 adolescentes atendidos.
Há mais de 30 anos, Zulmira é exemplo para quem já não tinha mais esperança de dias melhores, para pessoas ignoradas pela sociedade e reféns da desigualdade social. A Fundação Ninho é de fato um ninho de solidariedade e abrigo.
No batuque da solidariedade
O som dos tambores do Projeto Arte Lata também é anúncio de que destinos foram mudados a partir de uma ação solidária. São 191 crianças que encontraram nas atividades do Posto de Puericultura Suzanne Jacob (PPSJ), antigo Lactário Suzanne Jacob, o refúgio para se afastarem das mazelas do cotidiano. Muitas delas passavam parte do dia com os pais no lixão de Parnaíba catando materiais para vender. Hoje, além de frequentar a escola, meninos e meninas têm aulas de música, balé e futebol. O foco das ações é o bairro Alto Santa Maria, considerado um dos mais perigosos da cidade.
Gabriel Carlos Lima, 13 anos, integra o Arte Lata e a partir do contato com a música alimentou o sonho de se tornar um baterista. Cursando o 8º ano do ensino fundamental, Gabriel tem nos olhos o brilho de alguém que viu a sua história mudar. “Gosto de música e gosto de vir para cá. Se não der certo ser baterista acho que gostaria de ser um jogador de futebol”.
Um total de 191 crianças e adolescentes são atendidos pelo PPSJ (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Mylena Machado, 10 anos, toca repique e diz gostar de música, mas para ela a atividade é mais um lazer. A menina, que já é também cantora no coral da igreja, não pensa em brilhar nos palcos, mas sim fazer carreira como fisioterapeuta da Marinha do Brasil. “Acho uma profissão bonita e quero muito”, diz a menina.
Messias Miranda Pires, 12 anos, diz que a música o aproximou de alguns ritmos dos quais gosta muito: hip hop, reggae e samba. “Quero seguir carreira como músico, quem sabe um baterista, mas também pretendo fazer medicina. Quero ser médico”, diz o menino que há dois anos integra o Arte Lata.
O Posto de Puericultura Suzanne Jacob é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, fundada em 1938 por Roland Jacob com a finalidade de fornecer leite e alimentos para as crianças pobres de nossa cidade. Até 1998 suas ações estavam voltadas, basicamente, para a nutrição de crianças, com investimento em atenção à saúde e apoio material às famílias. A partir daí, o PPSJ começou um processo de revisão do seu papel institucional na região.
“Hoje o nosso foco é inserir outras atividades na vida dessas crianças promovendo a melhoria do ambiente por meio de recantos lúdicos e saudáveis integrando a família e escola nesse trabalho”, diz Luana Araújo, coordenadora do PPSJ.
A música que vem dos tambores do Arte Lata não ecoa só pelo bairro Alto de Santa Maria. As crianças frequentemente são convidadas para eventos culturais. O grupo já chegou a se apresentar na abertura do show da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano em Parnaíba. Orgulho para César Sousa, o instrutor de música que há 12 anos acompanha a criançada no Arte Lata.
“É uma alegria trabalhar com essas crianças e ver que a realidade delas pode mudar, ser adaptada à melhores condições. Não é só uma relação de professor, mas de amizade. Aqui somos pai, irmão, psicólogo e amigo”, diz César.
Além de Parnaíba, as ações do PPSJ já chegou às cidades de Caraúbas, Cocal, Ilha Grande e Carnaubeiras, no Maranhão. O Projeto Arte Lata conta com apoio do Criança Esperança, um projeto da Rede Globo em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).