SOCIEDADE ESPORTIVA TIRADENTES – O LENDÁRIO TIGRÃO!
(Parnaíba-PI) Por Renneé Cardoso Fontenele
(Em épocas passadas, grandes clubes do país conheceram a
fúria do Tigrão piauiense, o temido Amarelão da PM. Hoje, “O Lendário”!)
As histórias e estórias correm soltas. Sobretudo quando se trata de
futebol. Associam-se fatos, muitos deles até mesmo não merecendo tal
coisa. A título de exemplo, pode-se dizer que restringir a Sociedade
Esportiva Tiradentes à derrota elástica sofrida em um dos confrontos com
o Corinthians em 1983 e ou ao caso de homicídio envolvendo jogadores do
clube (inclusive Jorge Costa, o goleador de 1976), é, no mínimo, uma
insensatez.
Bastou apenas uma má apresentação, seguida de goleada como fora (10 a
1), e a “condenação” viria em seguida: “time ruim”, “sem criatividade”,
“como foi que o Corinthians perdeu em Teresina?”, e coisas semelhantes!
Os fatos, entrementes, são diversos, muitos dos quais omitidos pela
Imprensa Nacional. Revelam, a bem da verdade, um time temido: “Temido
Amarelão da PM”, como foi e é conhecido, por muitos!
A Sociedade Esportiva Tiradentes, expressivo clube piauiense, surgiu
em 1959, aos 30 dias de junho, por Sargentos e Subtenentes da Polícia
Militar do Piauí. Campeão Piauiense de Futebol por 5 vezes (1972, 1974,
1975, 1982 e 1990), o Tigrão, hoje, trabalha somente as categorias de
base e o futebol feminino, tendo participado do Estadual Sub-18 deste
ano e da Copa do Brasil.
Participou de 5 edições do Brasileirão Série A, em 1973, 1974, 1975,
1979 e 1983. A trajetória do Amarelão da PM é sobremodo digna de
aplausos e, claro, reminiscência de um futebol áureo, apresentado por
uma equipe nordestina.
Muitos clubes brasileiros, dos maiores centros do país, foram
vencidos pelo temido Tigrão, como clubes de São Paulo, Rio de Janeiro e
Paraná, sem mencionar os do Nordeste e de outras regiões.
Em 1973, entre os 40 clubes, o Amarelão passou para a segunda fase do
Brasileiro em 18º, sendo eliminado em seguida, embora vencendo o Ceará
no Castelão, empatando com o Coritiba no Couto Pereira e com o Atlético
mineiro no Albertão. Em 1974, houve uma divisão em grupos, sendo que o
Tiradentes terminou em 11º do Grupo A, perdendo a vaga da segunda fase
para o Paysandu que, por 1 ponto, tomou a vaga do clube piauiense. Em
1975, dos 10 clubes do Grupo B (Cruzeiro, Corinthians, Fluminense,
Guarani, Atlético paranaense, América mineiro, Ceará, Paysandu, Nacional
e Tiradentes), o Tigrão foi o quinto colocado, conseguindo a
classificação para a fase seguinte. Na oportunidade, empatava com o
Vasco em São Januário e batia o Flamengo no Albertão. Em 1976, jogadores
do clube foram envolvidos em um homicídio em Teresina, de modo que o
Comando da PM desativou o Departamento de Futebol. De volta aos
gramados, em 1979, o Tigrão fizera sua pior campanha, ficando na
lanterna do Grupo E. Em 1983, porém, num grupo onde disputavam 3 vagas
Corinthians, Fluminense, Fortaleza, CSA e Tiradentes, o Tigrão terminara
a fase inicial em terceiro lugar, perdendo a segunda colocação para o
Fluminense, pelo saldo de gols, mas passando à fase seguinte.
Alguns jogos marcantes podem ser citados:
Pelo Brasileiro de 1973, o Corinthians conhecia a derrota em
Teresina: Caio, o algoz do Timão, fazendo 1 a 0 Tigrão, sobre o maior
clube paulista, o Corinthians de Armando, do lateral Zé Maria, do muito
reverenciado e craque Rivelino, Tião, Vaguinho, entre outros que viram a
vitória piauiense no Albertão, naquele domingo, 16 de setembro de 1973,
uma vitória de nomes simples, como, por exemplo, Toinho, Ivan,
Marinho, Caio, Sima, Ventilador, Bina, e outros.
Pelo mesmo campeonato, o Coritiba de Jairo, Scala, Dico e Negreiros,
também sofreu a derrota para o Tigrão. Caio e Carlos Alberto marcaram os
dois gols da vitória do clube piauiense: 2 a 1 sobre o “Coxa”, em
Teresina.
O Vozão, também, seria alvo do Tigrão, no Castelão em Fortaleza. Pelo
Brasileiro de 1973, embora o jogo realizado em janeiro de 1974, o
temido Tigrão do Piauí deixou as marcas de suas garras: 2 a 0 sobre o
alvinegro da capital alencarina. Joel, no primeiro tempo e Marinho, no
segundo, decretaram a vitória do Tigrão piauiense em solo cearense.
Em 1974, 27 de março, numa quarta-feira, o famoso “Mecão”, o América
de Natal, tomava 3 a 0 no Albertão. Sima, o “Pelé do Nordeste”, abria o
marcador da goleada, aos 36 do primeiro tempo. Aos 42, ele, novamente,
Sima, fazendo 2 a 0 Tigrão. Joel, aos 38 do segundo tempo, fechava a
goleada: Tiradentes 3×0 América-RN.
Outro clube que sofreu a fúria do Tigrão, ainda em 74, foi o Bahia.
Mais uma goleada do “Amarelão da PM”, agora sobre os baianos: 3 a 0 o
marcador. Miltão marcou dois, e Derivaldo fechou a goleada: 3 a 0
Tiradentes!
O “Fogão” também não escapou da derrota, em 1974. Um timaço alvinegro
em campo. Do outro lado, apenas um clube do futebol piauiense. Contudo,
o Tiradentes. O Botafogo de Cão, Miranda, Ferreti, Nei, Nílson Dias e
Ficher , não agüentou a força do Tigrão no Albertão, naquele sábado, de 4
de maio. Nílson Dias abria o placar, aos 20 do primeiro tempo. Assis,
empatava o marcador: 1 a 1. A virada do Tigrão veio com ele, Sima, aos
25 minutos do segundo. Tigrão 2×1 Botafogo.
Outro clube carioca seria batido pelo Tigrão, ainda em 74: o Olaria! O
clube carioca, de Dirceu, Jair e Gesse, não suportou a força do clube
piauiense, perdendo por 2 a 0. Sima, no segundo tempo, fazia os dois
gols da vitória do Tigrão: 2 a 0 Tiradentes.
Dos cariocas aos maranhenses. O mesmo placar fizera o Sampaio Corrêa a
vítima seguinte: 2 a 0 no Albertão, com gols de Miltão e Maranhão, para
o Tiradentes.
Já em 1975, o América do Rio de Janeiro seria mais um clube carioca a
conhecer a derrota: Santos, para o clube piauiense, marcava os dois
gols, enquanto Mauro descontava. Tiradentes 2 a 1 sobre o América-RJ.
O Moto Club não teve a mesma “sorte”, perdendo para o Tiradentes por 4
a 1. Sima marcou 2, Edgar e Ubiranir fecharam a conta para o Tigre do
Piauí: 4 a 1 Tigrão!
Ainda pelo Brasileiro de 1975, Nivaldo do Tiradentes fazia 1 a 0 no
Palmeiras do goleiro Emerson Leão, Eurico, Ademir da Guia, Didi, dentre
outros nomes importantes do futebol brasileiro da época, que no Albertão
estiveram, na oportunidade. Sima jogou, no entanto, Nivaldo foi o nome:
1 a 0 Tigrão, sobre o “Verdão” do Palestra Itália.
Era quarta-feira 8 de outubro de 1975, em São Januário. A partida
prometia: de um lado, Mazarópi, Alfinete, Zanata, Alcir e Roberto
Dinamite; de outro, Sima, o artilheiro do Norte-Nordeste do Brasil. Com
dois jogadores expulsos (Vicentinho e Joel), o Tigrão foi barreira para o
Vasco da Gama, em pleno Rio de Janeiro. Foi Sima, porém, o autor do
primeiro gol, aos 44 da etapa inicial: 1 a 0 Tigrão! O Vasco tinha
Roberto Dinamite, que, aos 21 minutos da segunda etapa, empatava o
placar, dando números finais ao jogo: Tigrão 1×1 Vasco. Saliente-se: o
Tiradentes com 9 jogadores em campo!
No dia 29, o Tigrão teria mais um desafio carioca: o Flamengo! Pois
bem, a partida foi realizada no Albertão. O Flamengo, de Cantarelli,
Júnior, Liminha, Caio Cambalhota e ele, Zico, não esperava vencer o
Tigrão lendário do futebol piauiense. Não, evidente que não! Porque,
defendendo as cores do “Amarelão da PM”, estava, de pronto, ele, Sima, o
goleador! Fato é que marcaram Sima de forma eficaz. Esqueceram,
todavia, do atacante Meinha, que balançou as redes rubro-negras logo aos
4 minutos de jogo: 1 a 0 Tigrão, para o delírio de mais de 30 mil
torcedores no Albertão! Mas o Flamengo era uma equipe e tanto, empatando
e virando o marcador, com Luisinho (aos 20) e Zico (aos 30), fazendo 2 a
1 Flamengo. Na segunda fase do jogo, o Tigrão voltou a mostrar as
“garras”. Leal e Roberval marcaram, terminando o confronto em 3 a 2
Tiradentes, e mais um grande clube do futebol brasileiro derrotado pelo
lendário Tigrão do Piauí.
Pelo mesmo Brasileirão de 1975, o Santa Cruz, de Ramon e Luís
Fumanchu, chegava às semifinais do campeonato, fato que lhe deu a
condição de ser o primeiro clube do Nordeste a chegar às semi do
Brasileirão, inclusive, derrotando o Palmeiras, por 3 a 2, em São Paulo e
o Flamengo, no Rio, por 3 a 1.
Contra o Tigrão, entretanto, a história
foi outra: mesmo jogando no Arruda, pela segunda fase do campeonato, o
Santa não conseguiu superar o lendário Tiradentes. Ramon, para o Santa,
aos 27 minutos fazia 1 a 0. Sima, o matador, aos 49 do segundo, empatava
para o Tigrão: 1 a 1, placar final, em Recife!
Prosseguindo em 1975, o América de Natal tornava a perder: 1 a 0 Tiradentes, com gol de Sima, no Albertão!
Em 1983, pelo Grupo D (Corinthians, Fluminense, Fortaleza, CSA e
Tiradentes), 5 clubes disputavam 3 vagas. O Tigrão passou, novamente, à
segunda fase, terminando a primeira em terceiro colocado, perdendo a
segunda colocação no Grupo para o Fluminense, pelo saldo de gols (ambos
com 9 pontos), sendo o Corinthians o primeiro do Grupo e o Fortaleza o
lanterna. Oportuno observar, diga-se, que o Tigrão bateu todas as
equipes do Grupo D, na primeira fase.
Apesar de haver sofrido a dita goleada para o Corinthians, coisa que
aconteceria posteriormente, o Tigrão bateu, mais uma vez, a equipe
paulista. Era 29 de janeiro de 1983. O Corinthians com seu grande
elenco: Solito, Gonzalez, Wladimir, Zé Maria, Zenon, Biro-Biro, Paulo
Egídio, Sócrates e Casagrande, além de outros nomes! O Tigrão, com
Válter Maranhão, Sabará, Hélio Rocha, Joniel e Zuega, dentre outros
nomes, faria o seu papel em casa, com Sabará (o pequeno-gigante),
abrindo o placar aos 34 do primeiro tempo. Hélio Rocha, aos 39 minutos
iniciais, ampliava o marcador: 2 a 0 Tigrão! Aos 18 minutos do segundo
tempo, Sócrates diminuía o marcador. Foi só: Tiradentes 2×1 Corinthians!
Continuando em 83, após o Corinthians, veio o Fluminense. A exemplo
de Flamengo, América, Olaria e Botafogo noutras ocasiões, o tricolor das
Laranjeiras foi outro carioca que não conseguiu parar o ataque do
Tigrão. Com nomes importantes do futebol na ocasião, como Paulo Vitor,
Branco, Aldo e Leomir, o Fluminense perdeu em Teresina por 1 a 0.
Sabará, aos 4 minutos do primeiro tempo, definiu a partida: 1 a 0
Tiradentes!
Na sequência, o Tigrão foi ao Castelão, em Fortaleza, enfrentar o
Leão do Pici. O Tigrão fez 1 a 0, com Luís Sérgio, mas Rôner empatou
para o Fortaleza, terminando o jogo em 1 a 1. Na segunda partida, em
Teresina, no Albertão (“Gigante de Concreto”), o Fortaleza seria mais um
clube goleado pelo Tigrão. Com 3 gols de Luís Sérgio, e 1 de Hélio
Rocha, o Tigrão aplicava 4 a 1 no Leão do Pici, fazendo o Fortaleza
seu gol de honra através de Lenílson. Curioso notar que o Fortaleza
iniciou a partida vencendo, cedendo a virada e o placar elástico
posteriormente: 4 a 1 Tigrão!
Por fim, o CSA de Alagoas, perdendo por 2 a 1. A Vitória do Tigrão
veio com Sabará, aos 27 minutos do primeiro tempo. Romel, aos 30,
empatou para o clube alagoano. Flávio, aos 35 do segundo tempo, fazia 2 a
1 Tiradentes, “O Lendário”!
Como se vê, a história da Sociedade Esportiva Tiradentes, o Tigrão,
ou Amarelão da PM, não se restringe ao jogo contra o Corinthians e nem a
algum fato negativo relacionado ao modesto futebol do Piauí, mas é
motivo de orgulho tanto para o piauiense quanto para o nordestino em
geral, em virtude de seus feitos e, sobretudo, de toda sua história por
si só!