21/08/2017

'Caçadores gritaram: vamos matar', diz vigia sobrevivente de confronto na Serra da Capivara

Um guarda morreu e dois ficaram baleados durante confronto com caçadores em São Raimundo Nonato, Sul do Piauí. 

Morte de vigilante do parque Serra da Capivara abre discussão sobre a segurança no local 

O vigia Vilson falou pela primeira vez sobre o confronto entre caçadores e guardas do Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, Sul do Piauí. Ele é o único sobrevivente sem ferimentos, pois dois dos seus companheiros foram baleados e outro morreu na troca de tiros. 

"Estávamos andando no parque, quando o meu companheiro avistou um caçador atrás das pedras, com a espingarda apontada para nós. Dois dos guardas foram por outro lado e conseguiram tomar a arma e o facão dele, e o algemaram. Depois tentaram negociar com o outro caçador, que estava bastante alterado, então apareceram mais dois homens com a camisa amarrada no rosto e gritando: vamos matar eles", lembrou o vigia. 

Vilson contou que na agonia só escutou o tiro que matou o guarda Edilson Aparecido da Costa Silva. Logo em seguida, o vigia conseguiu fugir da mira dos caçadores e acionou a polícia, além dos funcionários do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). 

De acordo com os guardas, eram quatro caçadores armados com espingardas e apenas um deles também estava com um revólver calibre 38. Já os guardas, desde março, deixaram de trabalhar armados e usar coletes à prova de bala, por determinação do ICMBio, que reformulou cargos e diminuiu os salários. No entanto, segundo os vigias, dois deles estavam com revólveres e durante a troca de tiros conseguiram acertar dois dos caçadores. 

O confronto aconteceu na sexta-feira (18), em uma área de mata aberta do parque. Os quatro caçadores conseguiram fugir, mas dois deles foram localizados feridos e levados para o Hospital Regional Tibério Nunes, em Floriano. 

Policiais militares percorreram a trilha em busca de vestígios deixados pelos caçadores e encontraram três armadilhas, sendo que uma delas tinha um tatu morto. "Este tipo de crime é muito comum na região. Os caçadores costumam vir para área, como tem muito tatu eles colocam essas armadilhas", declarou o guarda do parque Flávio Rocha. 

Parque ameaçado
A presidente da Fundação do Museu do Homem Américo (Fumdham), Niède Guidon, se mostrou preocupada com tamanha violência e com a falta de segurança dos funcionários que fazem este trabalho de fiscalização no parque. Ela destacou que os caçadores são os próprios moradores de assentamentos próximos ao local. 

"Agora na situação atual do país precisaria que eles [os guardas] estivessem armados e protegidos, porque é realmente uma coisa terrível isso que aconteceu. O parque é muito grande e atualmente foram feitos muitos assentamentos ao lado do parque e tem muita gente morando ali, pessoas que justamente vão caçar. Então precisaria existir um número maior no sistema de grupos e armados, porque da maneira que está é perigoso", declarou Niéde. 

A coordenadora regional do ICMBio, Ana Célia Coelho, revelou que os servidores do órgão estão muito abalados e comovidos com o que aconteceu. Assim que soube do caso, ela foi até a Serra da Capivara prestar assistência aos vigias e as famílias. 

"Nós sabemos que são pessoas que se doam para o parque, tanto a ponto de arriscar a própria vida. Nós estamos empenhados em rever o sistema de segurança aqui do parque", acrescentou a coordenadora. 

Velório
O velório do vigia Edilson Aparecido da Costa Silva, de 49 anos, se estendeu até a madrugada desse domingo (20) em São Raimundo Nonato. Ele tinha sete filhos e trabalhava no parque há 13 anos. 

"Ele era o alicerce da minha família. Meu marido saiu para trabalhar e voltou sem vida, porque a área que ele trabalha é de risco e isto poderia acontecer a qualquer momento", declarou a viúva Fabiana dos Santos. 

Já o irmão da vítima, José Wilson da Costa, questionou porque o vigia trabalhava sem proteção e que o mesmo defendia por amor o parque. "Meu irmão estava sem proteção nenhuma, só com uma camisa para se defender de tiros, porque ele deveria trabalhar protegido, com colete", lamentou.

Fonte: G1 PI/Por BDPI 

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