09/05/2017

ARTIGO: Lula x Moro e a surda força dos vermes! (*)

Está em destaque no país a audiência da Lava-Jato em Curitiba marcada para o encontro cara a cara do Juiz Sérgio Moro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A imprensa brasileira tem dado destaque, ampliando assim o fato: “briga de gente grande”. De um lado, um juiz acostumado a inquirir como se jogasse xadrez. De outro, um político traquejado nos embates mais turbulentos.

A sensação de impunidade, mais a falta de civilidade e o desrespeito à democracia, têm tudo para transformar Curitiba numa praça de guerra nesse próximo dia 10 de maio. Quem vai responder se o pior ocorrer por causa desse tipo de desafio?! Quem imprimiu essa caráter de teatralização?

Em lados opostos duas personalidades totalmente distintas. Lula fala com eloquência. Usa linguagem simples, de fácil compreensão até pelas pessoas mais incultas. Ele se vale de exemplos até singelos para endireitar uma linha de raciocínio nem sempre lógica e concatenada. Sua veemência passa a ideia de que tem razão, até quando os fatos demonstram que talvez esteja equivocado.

Moro tem outro estilo. Em determinados momentos sua fala é até hesitante. Sua voz não é tão potente e, em alguns instantes, produz pausas excessivamente prolongadas. Passa a ideia de uma certa inibição. Para compensar essa falta de eloquência, conta com preparo admirável e uma linha de raciocínio que beira à perfeição. Sua postura elegante e gestos moderados emprestam à sua figura a credibilidade que a função do juiz exige.

Mas, querem transformar o ato jurídico num ato político. Lula será interrogado no processo em que é acusado de ter obtido vantagem no esquema de corrupção da Petrobras, no qual teria recebido R$ 3,7 milhões em propina da OAS. Das cinco ações penais nas quais ele é réu, este é o processo mais avançado. Dirigentes do PT, de partidos aliados e movimentos sociais planejam levar uma multidão barulhenta para recepcionar o ex-presidente Lula no aeroporto de Curitiba e conduzi-lo pelas ruas da cidade até o prédio da Justiça Federal. Do lado de fora, 50 mil militantes aguardariam o fim da audiência entoando palavras de apoio ao petista e contra a Lava-Jato. A recepção a Lula em Curitiba está sendo organizada pela Frente Brasil Popular, movimento que abriga 68 organizações de esquerda.

Do outro lado, apoiadores da Operação Lava-Jato grupos como “Vem Pra Rua” e o recém criado “Lava Togas”, de críticos ao STF, pagaram por mais de 30 outdoors contra Lula, fazendo referência a seu depoimento a Moro. Com desenhos diferentes, eles têm dizeres como “A ‘República de Curitiba’ te espera de grades abertas”. 

Para evitar confrontos diretos a Secretaria de Segurança Pública determinou espaços separados para os grupos a favor e contra o ex-presidente, os quais marcaram atos de manifestação para a data. 

Um fato novo foi divulgado ontem (09 de maio), a defesa de Lula entrou com um pedido de habeas corpus, solicitando liminarmente a suspensão do processo e a concessão de mais prazo para analisar a documentação anexada pela Petrobras no final do mês passado. A alegação é que a defesa está prejudicada por não ter acesso aos mesmos documentos que teve o Ministério Público Federal (MPF) ao denunciar o ex-presidente, ferindo assim a “paridade de armas” do processo. 

O fato é que, mais uma vez a polarização entre a esquerda e os reacionários de direita divide o país e tentam, ao modo deles, induzir a sociedade a escolhas ideológicas conforme o projeto de poder de cada partido político, mesmo que desconectado dos interesses coletivos. De um lado, a esquerda fragilizada pelos desmandos realizados na última década; e a direita que retornou ao poder graças à incapacidade dos últimos governantes e aos casos de corrupção que deflagrou a implosão dos principais partidos políticos, colocando-os numa mesma vala, a vala comum da roubalheira.

O debate que o PT e seus aliados fazem na defesa de Lula não é o mesmo de outrora. Antes defendiam apuração rigorosa dos escândalos de corrupção, hoje entoam que há uma perseguição orquestrada contra Lula, evitando o seu desejado retorno à presidência em 2018.

Diante dos fatos trazidos pela Lava-Jato, vê-se que os partidos corruptos foram retirados do poder não pelo discurso ideológico de mudança promovido pelo PT que era a reserva moral e ética do país. A cruel realidade mostra-nos que, lamentavelmente, o PT “descobriu” e usou os mesmos métodos corruptos para chegar ao poder. Assim, o partido corre o risco de encerrar o seu ciclo por ele mesmo, por seus erros cometidos, na contra mão do que sempre defendeu e lutou. Como último suspiro: vitima-se!

Afinal, para essa gente, o que dá sentido à vida? É preciso entender de como a corrupção leva as pessoas à um mundo fútil: tudo pelo poder e a vida fácil! E, o pior é que os limites não são atingíveis. A falta de escrúpulo não tem morada!

No poema “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meirelles diz: “Pelos caminhos do mundo nenhum destino se perde: há os grandes sonhos dos homens e a surda força dos vermes”.

(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano

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