09/10/2016

Precisamos falar sobre Whindersson Nunes


"(…) Hoje eu estava triste, saudade de casa, da namorada, dos amigos, dentro de um avião, eu chorei tanto, tanto, uma angústia tão grande." — Whindersson Nunes, no Facebook

Você pode não gostar do Whindersson Nunes. Pode não gostar dos vídeos que ele faz, dos shows que ele faz, nem das piadas que ele faz. Mas você não pode dizer que ele não fez.

Whindersson foi lá e fez. Fez o quê? Seguiu um sonho. Ou melhor, realizou.

Um nordestino de origem humilde, que faz graça contando de um jeito bem humorado tudo pelo que já passou. Com uma câmera simples, sem microfone, sem cenário, sem blusa, sem produção. Ele tinha carisma, visão, e o mais importante: dedicação.

A maioria das pessoas nos dias de hoje desiste, não antes de tentar, mas logo depois de começar (o que é pior). Somos ótimos em arrumar os preparativos da melhor maneira possível. Mas do que adianta? Conheci dezenas de pessoas com sonhos e projetos pessoais que juravam ser a melhor ideia do mundo e que “daria muito, muito certo”.

Eles tinham uma banda diferente, com uma proposta sensacional. Ela tinha uma ideia incrível para um livro, e sua namorada teve a ideia para um canal no Youtube nunca feito antes. Ele queria abrir um food truck, e seu primo, uma padaria com uma proposta acolhedora e inovadora. O outro pensou num aplicativo que mudaria o jeito das pessoas viverem o dia a dia. Outra colega desenvolveu uma linha de blusas, e seu irmão mais velho comprou a melhor câmera digital do mercado e queria ser famoso no Instagram com suas fotos.

A banda comprou os melhores instrumentos que podiam, arrumaram dois shows num bar e até mesmo um colega designer fez uma logo nota dez. Ensaiavam só quando a faculdade deixava e depois de seis meses, não tocavam mais. “Não estava indo pra frente”. *(A partir daqui virão vários exemplos, pode pular se quiser pro próximo asterisco)

A escritora sentou na frente do seu computador três vezes e escreveu cinco capítulos. Faltou inspiração e já se passou mais de um ano que ela não toca no arquivo, que toda semana jura que vai abrir e escrever mais. “Tenho coisas mais importantes que tomam o meu tempo”. Sua namorada? Fez dez vídeos. Em oito meses. Ganhou 200 inscritos, desistiu. “É impossível, precisa ser amiga de gente famosa já pra dar certo”.

O empresário que ia abrir um food truck? Fez a identidade visual com o sobrinho publicitário, pegou um dinheiro emprestado com o pai, comprou os melhores utensílios de cozinha que podia comprar. Escolheu o melhor nome. Desistiu no primeiro processo burocrático. “Não acho que vale muito a pena, prefiro gastar meu tempo fazendo concurso, sabe?”. Seu primo passou pra Medicina, plano A de seus pais, e seu sonho da padaria inovadora? Plano B. “Essas coisas nunca vão pra frente”.

O garoto do aplicativo desistiu depois de passar três meses e ainda não ter aparecido em matérias de jornais e sites sobre tecnologia. A moça da linha de blusas? Ela já criou o Instagram, achou o designer pra fazer seu site, pensou no nome, criou página no Facebook, falou pra todas as amigas. Fez as primeiras peças e levou um mês pra vender metade. Desistiu. Não ia pra frente, certeza que não. Seu irmão mais velho? Descobriu que fotografar não era só apertar um botão. Estudou, aprendeu. Fotografou meia dúzia de pessoas, quase que copiando seus ídolos do Instagram. Ganhou mil seguidores em cinco meses. Desistiu. “As pessoas não dão valor pro meu tipo de arte, meus seguidores não crescem. Nunca vou viver disso, preciso entregar os Jobs atrasados logo”.

*(Aqui, pula pra cá) Já deu pra entender, né? Mas eu vou dar um último exemplo, leia ao menos esse se tiver pulado pra cá logo depois da parte da banda.

Ele teve uma vontade de criar um canal no Youtube. Não tinha grana pra uma câmera, pegou a que estava por perto e funcionava. Fez o primeiro vídeo. O segundo. O terceiro. O quarto. O quinto. Recebeu dez inscritos. Fez o sexto, o sétimo, o oitavo. Recebeu mais trinta inscritos. Manteve a frequência, aumentou a quantidade, não melhorou o equipamento. Um ano se passou. Dois. Três. Pensou em outros formatos de vídeo, se inovou, se superou. Fez o vídeo número cem com a mesma dedicação com a qual fez o primeiro. Faz vídeo para doze milhões de pessoas com a mesma dedicação com a qual fazia para vinte. Sorte? Talvez um pouco. Mas deixa eu te contar um segredo: depois de anos de estrada, qualquer um esbarra num momento de sorte. Você não esbarrou porque não tentou. Não deu nem tempo.



Whindersson Nunes em fevereiro de 2014

Eu sou fã desse cara, que mudou a própria vida e a da família. Ele só queria ser alguém na vida, e virou alguém na vida de muita gente.

Não vire e diga que é fácil o que ele faz. Que é só gravar um vídeo e postar. Que ele teve sorte e que as pessoas dão ibope pra ele porque não sabem consumir coisa de qualidade. Não é só gravar um vídeo, é gravar cem. Não é gravar quando quer, é gravar toda semana. É gravar sem voz, doente. É não deixar o público esquecer de você. Não é fazer só quando dá tempo, é dar prioridade pro que se quer fazer. Não é deixar de comparecer numa reunião que pode ser uma oportunidade para o seu canal por causa de uma prova. É faltar a prova na faculdade pra ir na reunião atrás da oportunidade, por mais incerta que ela seja. É se agarrar nas incertezas que uma hora você pesca uma certeza das boas. Não é porque ‘deu sorte’. A sorte que se dá pra quem tentou. Não é o povo que não sabe consumir, é você que acha que as pessoas tem que consumir o que você gosta. Que prefere justificar o sucesso dos outros dizendo que seu público não sabe o que faz.

Tudo isso porque você desistiu.

Todos temos que admitir uma coisa. Whindersson Nunes não está ali por acaso. Ele está ali porque ele FOI LÁ E FEZ. E FEZ DE NOVO. E DE NOVO. E DE NOVO. Não goste do que ele faz, mas admita que ele fez como poucos fazem. Com amor e dedicação. Não se vira o maior do país por sorte. Até mesmo a sorte tem limites, e Whindersson foi além deles.

Que sirva de lição para a geração mais ambiciosa da nossa história, com os curriculums mais inchados que eu já vi, mas que desiste dos sonhos por causa de resultados demorados demais. Você precisa de ao menos quatro anos pra se formar na sua faculdade, dando 100% de atenção pro curso. Acha que vai realizar o sonho da sua vida em seis meses?

Tenta de novo.

Fonte: Youpix/Por João Doederlein

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